Arthur Luiz Piza tem 20 anos quando integra o atelier de Antonio Gomide – grande nome do modernismo brasileiro – para seguir uma formação clássica. Depois de várias exposições em São Paulo, incluindo uma participação na Primeira Bienal onde mostra obras de tendência surrealista, instala-se em Paris em 1951. Lá aprende as técnicas de gravura com Johnny Friedlaender.
Suas obras liberam-se gradualmente da figuração; a preocupação construtivista domina, as formas refinadas recebem fundos delicadamente trabalhados. Ele apresentará o fruto desta pesquisa na Segunda Bienal de São Paulo, onde receberá o Prêmio de Aquisição.
A partir da década de 1960, sem nunca deixar de gravar, Piza volta-se para a colagem, explorando a matéria e o relevo com madeira, areia ou pasta de vinil. Usando tela ou chapa de madeira como suporte, ele reúne pequenos pedaços de madeira ou papel grosso (geralmente aquarelas picotadas) em uma geometria dançante, que mais lembram as escamas de um tatu do que a justaposição de um mosaico. Às vezes, os fragmentos são cobertos com uma camada unificadora (tinta, gesso).
A cor – trabalhada em ricas variações de terra, vermelho e preto – sempre serve a forma. O aspecto ultra pigmentado da gravura encontra na pintura um desenvolvimento vibratório.
A partir dos anos 70, os relevos se acentuam a ponto de se tornarem esculturais.
Piza entalha a madeira. Os papeis são trabalhados cada vez mais profundamente, em uma dinâmica expansionista. Assim nasce a série “Corte / Recorte”, onde incisões profundos esculpem folhas de papel. Às vezes, a cor amplifica a percepção dos volumes. Mas é o branco original do material, como observa a crítica Stella Teixeira de Barros, que permite que o trabalho explore ao máximo as modulações da luz.
Piza corta e finca suas formas geométricas sobre as pontas, planta pedaços de metal pintado em carpetes de sisal, com total liberdade. Decolar do plano abre caminho para novas pesquisas ; como sugere o crítico Tiago Mesquita, “o que antes sugeria volume e fluxo é aqui transformado em tridimensionalidade”.
Ele explora esculturas em grande escala, a arte mural (como o painel feito para o Centro Cultural Francês de Damasco, 1986), experimenta com porcelana (Manufactura de Sèvres), faz jóias (Artcurial).
No atelier, recortes de metal são pendurados nas paredes, livres de qualquer estrutura, de qualquer suporte.
Piza gradualmente incorpora tramas de arame em seu trabalho; as sobrepõe combinando vários tipos de malha que captam diferentemente a luz, e nelas aninha formas coloridas. “Sinto a alma próxima da dos índios da Amazônia, que vêem os fragmentos multicoloridos de pássaros atravessando a estrutura densa e quase escura da floresta”, diz.
Essa exploração do efêmero, do frágil, do acaso poético – ou, como tão bem coloca o crítico Paulo Sérgio Duarte, esse “desejo de ordem que não se materializa” – sempre terá norteado a pesquisa do artista, como ele sempre terá sido capaz de se renovar.
Suas obras, expostas regularmente em inúmeras galerias – principalmente Raquel Arnaud em São Paulo, La Hune e Jeanne Bucher em Paris, Gustavo Rebello Arte no Rio de Janeiro – são presentes em muitos museus e instituições públicas: BNF, Museu Nacional d ‘Art Moderne, Paris, MAM Ville de Paris, MAM, MAC e Pinacoteca do Estado de São Paulo, Instituto de Arte, Chicago, Modern Art Museum, Nova York, Solomon R. Guggenheim Museum, NY, Victoria and Albert Museum e Tate Modern, Londres, Musée d’art moderne, Saint Etienne…
Trama. Nanquim, aquarela sobre papel, c. 1980